Reza a lenda indígena, que uma tribo muito feliz vivia numa região fecunda e próspera. O sol aquecia as cabanas, amadurecia os frutos. De vez em quando as nuvens cobriam o sol, e a chuva caia, molhando as plantações, aumentando os rios. Mas depois o sol começou a ficar muito quente , muito quente. Tão quente, que foi secando os rios e matando as plantas e os animais.
Os índios rezavam e dançavam pedindo a tupã que lhes mandasse outra vez a chuva que mata a sede das plantas e dos animais. Mas era tudo em vão! O sol continuava queimando… Os índios e animais morriam, os urubus devoravam os corpos abandonados. A seca terrível persistia. Luas e luas e nada de chuva. E a tribo, outrora feliz, viu seus filhos morrerem um após outro. Uma família apenas sobreviveu à catástrofe: um casal e um filho. E, ante a ruína do seu povo, partiram em busca de outras terras.
Viajaram seis dias e seis noites, comendo raízes. No sétimo dia, sob um sol escaldante, avistaram na chapada uma palmeira sozinha perdida no deserto, balançando como ventarolas suas palmas verdes. Vencidos pelo cansaço, os pais adormeceram. Só o indiozinho continuava acordado e preocupado pedia auxílio de Tupã, quando viu uma voz que chamava por ele.
No topo da palmeira uma índia lhe dizia: Eu me chamo carnaubeira e estou aqui pra te ajudar. Há muitos anos a minha tribo também foi atormentada pela seca. Socorri a todos e, quando morri a lua me transformou nesta árvore para salvar os desamparados. Faze o que te aconselho e ainda serás feliz:
Talha o meu tronco e com a minha seiva mata a sede de teus pais e a tua.
Cozinha um pouco das minhas raízes, é remédio. que bebido, fecha tuas feridas.
Põe pra secar minhas folhas e bate-as. Delas sairá um pó cinzento e perfumado, a minha cera, com que poderás iluminar o teu caminho nas noites sem lua.
Da palha que ficar, tece teu chapéu e tua esteira.
Agora faço-te um pedido: Plantas meus coquinhos para que tenhas um Carnaubal, e poderás então construir a tua cabana com a madeira do meu tronco.
O menino fez tudo o que a índia lhe aconselhou. Dentro de alguns anos, um carnaubal imenso balançava-se ao vento. E o indiozinho, já homem, despedia-se dos seus pais para levar a todas as tabas os cocos da boa árvore da providência, como a chamam hoje os caboclos felizes.